Há 2 meses o
processo foi iniciado. Como proposta, surgiu um treinamento semanal, onde todos
nos encontraríamos e desvendaríamos esse universo juntos. Havia uma
primeira impressão que mostrava a necessidade de um tempo para os atores se
familiarizarem com a técnica. Apenas com a repetição o corpo absorveria os domínios
básicos para a execução desta linguagem. Em paralelo, surgiu a oportunidade de
criarmos uma cena para participar de um festival universitário de esquetes – o FESTURio. A existência de um prazo – tínhamos
que encarar uma banca de seleção em apenas 1 mês de trabalho - foi fundamental
para que tivéssemos uma confirmação: a apropriação desta técnica de trabalho
exige, além de muita dedicação, é claro, principalmente um olhar intenso e atento,
com uma precisão técnica por vezes irritante. Mas nesse microuniverso, os mínimos
acontecimentos/gestos/ações têm provocado significados diversos. Qualquer variação
na inclinação, na pulsação e no ritmo desses pequenos seres gera uma nova sensação.
Outra questão
que tem se comprovado na prática: o tempo de desenvolvimento dos personagens. Ao
surgirem em cena, essas figuras causam uma estranheza “de cara”. Quem assiste
não identifica o que está acontecendo imediatamente. É necessário um tempo de
desenvolvimento de cada personagem. O espectador vai se familiarizando e
reconhecendo elementos naquele “ser”, que geram uma identificação e certa
empatia.
Como criar
seres fantásticos? Desde a concepção do projeto, minha ideia, como diretor, já
era de criar seres que fossem estranhos ao universo onde Quinho vive. Venho
instigando, desde o início, o elenco a pensar nessa questão no momento da elaboração
destes personagens. Entretanto, surgiu a problemática: esta técnica já promove
uma estranheza por natureza, portanto, a busca deve ser pela aproximação à
forma humana. Assim, naturalmente a sensação de surpresa brota nos espectadores.
Faz necessária uma “normalização da estranheza” para que haja um equilíbrio.
A questão
surgida que permeará a 2ª etapa do treinamento que será iniciada no mês de
maio: como a fala brota em figuras que não apresentam boca? Como tornar crível o
texto falado por esses personagens?
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[17/04/2013] O QUE DESEJO?
Desde que ingressei no curso, tinha a certeza de que gostaria de
desenvolver uma pesquisa dentro de uma linguagem cênica específica no meu
espetáculo de formatura. Várias foram as ideias: teatro musical, monólogo,
espetáculo sem texto... até que, através de uma experiência profissional no fim
de 2012 cheguei a uma definição. Decidi que me aprofundaria em uma das
vertentes do teatro de animação, após
ter integrado uma breve, mas intensa, oficina com a mestra Ines Pasic da companhia peruana Teatro
Hugo e Ines. Lá recebemos – eu e outros alunos presentes – orientações a
cerca da técnica que se baseia na animação de partes do corpo específicas como
joelhos, pés e mãos. Com o uso de poucos elementos, estas partes ganham vida e tornam-se
personagens.
Após 5 anos vividos dentro do curso, percebi também a ausência de uma
discussão a respeito do teatro destinado ao público infantil. Em uma das
disciplinas – Ética no Teatro –
cheguei a conceber um trabalho escrito sobre o assunto, mas desde então não houve
mais oportunidades em que essa questão pudesse vir à tona. Por isso, decidi
retomá-la e realizar minhas últimas duas práticas de montagem dentro deste
universo.
O espetáculo de formatura engloba ainda, um desejo bastante íntimo:
encenar uma dramaturgia própria. Tenho diversas experiências como autor, mas
todas ainda presas nas pastas dentro do computador. Nenhuma conseguiu saltar e
alçar voo. Por isso o texto escolhido foi A
Jornada de Quinho, escrito há cerca de 5 anos para outro propósito que não
se concretizou. E após esse tempo adormecido, volta à minha lista de planos
para o ano de 2013.
Esses três desejos juntos resultaram nesta escolha que fiz para meu
Projeto de Experimentação Teatral.
Com isso, pretendo realizar uma etapa preparatória ao processo de
ensaios, com um treinamento do elenco, fazendo com que os atores se
familiarizem com a linguagem para, posteriormente, se apropriarem dela,
utilizando-a a seu favor na construção da encenação.
O desejo maior é de criar um espetáculo que seja capaz de retirar os
espectadores, durante 60 minutos, daquela sala de espetáculos, leva-los a outra
dimensão, a um lugar da fantasia, e trazê-los transformados de volta ao seu
dia-dia após o término da peça. Desejo que retornem às suas casas com novos
espaços abertos dentro do peito, onde serão capazes de armazenar uma escuta
mais sincera àqueles que estão em seu convívio.
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