Pensamentos

[29/04/2013] PRIMEIRAS REFLEXÕES


Há 2 meses o processo foi iniciado. Como proposta, surgiu um treinamento semanal, onde todos nos encontraríamos e desvendaríamos esse universo juntos. Havia uma primeira impressão que mostrava a necessidade de um tempo para os atores se familiarizarem com a técnica. Apenas com a repetição o corpo absorveria os domínios básicos para a execução desta linguagem. Em paralelo, surgiu a oportunidade de criarmos uma cena para participar de um festival universitário de esquetes – o FESTURio. A existência de um prazo – tínhamos que encarar uma banca de seleção em apenas 1 mês de trabalho - foi fundamental para que tivéssemos uma confirmação: a apropriação desta técnica de trabalho exige, além de muita dedicação, é claro, principalmente um olhar intenso e atento, com uma precisão técnica por vezes irritante. Mas nesse microuniverso, os mínimos acontecimentos/gestos/ações têm provocado significados diversos. Qualquer variação na inclinação, na pulsação e no ritmo desses pequenos seres gera uma nova sensação.
Outra questão que tem se comprovado na prática: o tempo de desenvolvimento dos personagens. Ao surgirem em cena, essas figuras causam uma estranheza “de cara”. Quem assiste não identifica o que está acontecendo imediatamente. É necessário um tempo de desenvolvimento de cada personagem. O espectador vai se familiarizando e reconhecendo elementos naquele “ser”, que geram uma identificação e certa empatia.
Como criar seres fantásticos? Desde a concepção do projeto, minha ideia, como diretor, já era de criar seres que fossem estranhos ao universo onde Quinho vive. Venho instigando, desde o início, o elenco a pensar nessa questão no momento da elaboração destes personagens. Entretanto, surgiu a problemática: esta técnica já promove uma estranheza por natureza, portanto, a busca deve ser pela aproximação à forma humana. Assim, naturalmente a sensação de surpresa brota nos espectadores. Faz necessária uma “normalização da estranheza” para que haja um equilíbrio.
A questão surgida que permeará a 2ª etapa do treinamento que será iniciada no mês de maio: como a fala brota em figuras que não apresentam boca? Como tornar crível o texto falado por esses personagens?


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[17/04/2013] O QUE DESEJO?

Desde que ingressei no curso, tinha a certeza de que gostaria de desenvolver uma pesquisa dentro de uma linguagem cênica específica no meu espetáculo de formatura. Várias foram as ideias: teatro musical, monólogo, espetáculo sem texto... até que, através de uma experiência profissional no fim de 2012 cheguei a uma definição. Decidi que me aprofundaria em uma das vertentes do teatro de animação, após ter integrado uma breve, mas intensa, oficina com a mestra Ines Pasic da companhia peruana Teatro Hugo e Ines. Lá recebemos – eu e outros alunos presentes – orientações a cerca da técnica que se baseia na animação de partes do corpo específicas como joelhos, pés e mãos. Com o uso de poucos elementos, estas partes ganham vida e tornam-se personagens.
Após 5 anos vividos dentro do curso, percebi também a ausência de uma discussão a respeito do teatro destinado ao público infantil. Em uma das disciplinas – Ética no Teatro – cheguei a conceber um trabalho escrito sobre o assunto, mas desde então não houve mais oportunidades em que essa questão pudesse vir à tona. Por isso, decidi retomá-la e realizar minhas últimas duas práticas de montagem dentro deste universo.
O espetáculo de formatura engloba ainda, um desejo bastante íntimo: encenar uma dramaturgia própria. Tenho diversas experiências como autor, mas todas ainda presas nas pastas dentro do computador. Nenhuma conseguiu saltar e alçar voo. Por isso o texto escolhido foi A Jornada de Quinho, escrito há cerca de 5 anos para outro propósito que não se concretizou. E após esse tempo adormecido, volta à minha lista de planos para o ano de 2013.
Esses três desejos juntos resultaram nesta escolha que fiz para meu Projeto de Experimentação Teatral.
Com isso, pretendo realizar uma etapa preparatória ao processo de ensaios, com um treinamento do elenco, fazendo com que os atores se familiarizem com a linguagem para, posteriormente, se apropriarem dela, utilizando-a a seu favor na construção da encenação.
O desejo maior é de criar um espetáculo que seja capaz de retirar os espectadores, durante 60 minutos, daquela sala de espetáculos, leva-los a outra dimensão, a um lugar da fantasia, e trazê-los transformados de volta ao seu dia-dia após o término da peça. Desejo que retornem às suas casas com novos espaços abertos dentro do peito, onde serão capazes de armazenar uma escuta mais sincera àqueles que estão em seu convívio.

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