Neste momento as águas se acumulam nos olhos. 6 anos em 3.500
caracteres... ok, vou tentar.
Já foi um musical, já foi Nelson
Rodrigues, já foi uma tragédia grega, já foi um espetáculo sem texto... tanta
coisa. Acabou vencendo a jovem Kim e sua jornada. Ela já estava guardada nos
arquivos do computador havia tanto tempo, mas realmente não poderia ser outra
história. São tantos os obstáculos que surgem no caminho dessa menina, que
tentam fazê-la desistir. E desde meus 15 anos de idade, foram tantas as pessoas
que me diziam para desistir, para tentar outra área, pois eu não tinha “pinta
de artista”. Talvez eu tenha escrito essa peça, lá em 2008, de forma
inconsciente [e premonitória] para retratar toda a minha trajetória até este
momento tão marcante: minha formatura.
Em setembro de 2012, durante um trabalho que realizei no Festival
Internacional Intercâmbio de Linguagens [FIL], esbarrei com Hugo e Ines e sua
extraordinária arte. Foi amor à primeira vista. Quando assisti ao espetáculo Cuentos Pequeños, tive a certeza de que
aquela linguagem traduzia algo que se passava dentro de mim. E a confirmação
chegou quando estive nos três dias de oficina que Ines Pasic ministrou no
teatro do Jockey. A ficha caiu e Kim mostrou, então, que estava preparada para
ganhar vida através daqueles joelhos engraçados, pés tão alegres e mãos absolutamente
expressivas que eu havia acabado de conhecer. Assim que a mestre recomendou, a
nós alunos, que déssemos continuidade àquele estudo que havíamos iniciado
juntos, corri para chamar as pessoas mais queridas, com quem eu gostaria de
dividir essa minha mais nova diversão.
E o tema da mostra nesse ano Manifestar
alcança a essência deste projeto. Cheguei na reta final da minha formação
acadêmica sem ter entrado em qualquer discussão, dentro de sala de aula, a
respeito do teatro feito para crianças. Ora essa, será ele algo irrelevante?
Não pode ser considerado como uma possibilidade de pesquisa cênica? Mas é claro
que sim. Não desejo me tornar um diretor
de teatro infantil [apenas]. É mais uma entre tantas vertentes. O
interessante é poder transitar por diferentes ideias em cada nova oportunidade
de criação surgida. Tenho espírito de cientista e o que mobiliza minha
consciência criativa é a possibilidade de realizar experimentos. Tem público
melhor do que esses pequenos que são sempre tão transparentes e sinceros com o
que assistem? Eles são um excelente termômetro. Por isso quero trazer essa
discussão para dentro dos muros da universidade, na tentativa de um
fortalecimento do tema.
Aproveito essas linhas para agradecer àqueles que deixaram sua marca
nesta jornada: Letícia Bianchi, por ceder a casa onde preparei o macarrão com
espinafre que seduziu o elenco em nosso primeiro encontro; Márcio Moura, com
sua tão agradável troca de experiências; aos pais do Ricardo por nos abrigarem
durante um tempo lá no alto do Cosme Velho; a Vitor Martinez, Ike de Henrique e
Thômas Santos por suas vivências.
Estou ansioso para abrir esse nosso pequeno mundo. Sejam muito bem vindos.
Torço para que saiam deste espetáculo com a mesma euforia e o mesmo brilho nos
olhos que percebi nos meus atores quando ocorreu o primeiro contato com esta
técnica tão instigante, pois é por isso que luto. Meu trabalho só faz sentido
quando provoca um olhar reluzente. Dessa maneira, meu coração amolece e a
sensação de ser humano fica plena. Que possamos sempre ser generosos.
Divirtam-se!
Nenhum comentário:
Postar um comentário